sábado, 11 de maio de 2013

Grandville, a saga furry de Bryan Talbot

Com a maturização da audiência dos quadrinhos americanos nos anos 80, as graphic novels européias se popularizaram internacionalmente e uma nova onda de autores e sagas surgiram. Uma dessas séries novas foi As Aventuras de Luther Arkwright, que, com sua mistura de açâo, aventura e suspense e ambientação steampunk  (Idade Moderna com tecnologia futurista) , conquistou o povo e crítica inglesa e americana.

Capa de uma das compilações de As Aventuras De Luther Arkwright. Perceba a presença de elementos clássicos e futuristas na imagem. 

Com o sucesso de sua primeira saga, Bryan Talbot (que antes escrevia HQs curtas para a revista Brainstorm!) foi às alturas, virando um mito no mercado das graphic novels e lançando um clássico atrás de outro, sempre experimentando com temas e situações nunca antes usadas em quadrinhos. Após anos de sucesso com histórias bizarras como Alice in Sunderland, que é uma biografia de Lewis Carroll com elementos de Alice No País Das Maravilhas e que tenta traçar as inspirações do professor de matématica de Sunderland para seu clássico, Bryan voltou a território familiar em 2009, com o lançamento de sua mais recente criação, Grandville

Capa da edição em capa-dura de Grandville. 

Grandville é um thriller noir antropomófico com ambientação steampunk, inspirado nas histórias de Sherlock Holmes e Tintin e influenciado pelos filmes do diretor norte-americano Quentin Tarantino. A saga ocorre em um universo paralelo, onde humanos são uma minoria racial e a França conseguiu dominar o mundo durante as Guerras Napoleônicas. O único país do mundo inteiro livre do domínio da dinastia Napoleão (que, no primeiro livro, já está em seu 12º membro) é a República Socialista da Inglaterra, uma ilhota suja, pobre e cheia de criminosos letais. Ela só conseguiu sua liberdade há 23 anos atrás (a França está sobre o domínio do mundo há mais de 200), e os franceses odeiam tudo que vem de lá. O racismo Franceses-Ingleses era tolerável até três anos antes da história começar, quando um suposto grupo de anarquistas ingleses usou um dirigível cheio de explosivos para destruir a famosa Torre de Robida, uma imponente construção no centro de Paris (agora conhecida como Grandville, por ser a maior e mais importante cidade do mundo), deixando milhares de mortos, e aumentando o preconceito dos habitantes de Grandville contra ingleses a um nível intolerável. 


A história começa com a perseguição e morte misteriosa de Raymond Leigh-Otter, uma lontra que trabalhava para a RSI como socialite na França. Quando a polícia do vilarejo de Raymond supõe um suicídio devido a incrível organização de casa do fidalgo, O texugo Detetive-Inspetor Archibald "Archie" LeBrock, da Scotland Yard (uma cooperativa de detetives ingleses) entra no caso com seu assistente, o rato Roderick Ratzi, e começa a suspeitar de que o suícidio de Raymond foi, na verdade, um assasinato orquestrado e realizado pelo Serviço Secreto da Polícia Imperial Francesa. Suas investigações o levam para Grandville, onde o texugo se adentra em uma uma conspiração política intimamente relacionada ao Incidente Da Torre De Robida.


 Grandville é uma história fantástica, obrigatória para qualquer fã de HQs e/ou contos de suspense. Furries podem estranhar um pouco a arte de Talbot no começo, pois os animais retratados são surpreendentemente realistas, ao contrário do que é normalmente visto na fandom, que contrastam com os humanos "clean" e sem linhas externas dos painéis, que remetem aos trabalhos de Hergé, artista e criador das graphic novels bélgicas de suspense Tintin.


Os humanos de Grandville (chamados de "caras-de-farinha" pelos animais da Paris) não são a única referência a Tintin do livro. Grandville é cheio de referências e homenagens a ilustradores, cartunistas e autores de suspense europeus, especialmente aos ilustradores Albert Robida, que foi um pioneiro em desenhos e ilustrações steampunk,  assim como Talbot foi um pioneiro em graphic novels steampunk com As Aventuras de Luke Arkwright, e o caricaturista Jean Ignace Isidore Gérard Grandville, que assinava seus trabalhos com o pseudônimo J.J. Grandville e que frequentemente desenhava animais antropomorfizados vivendo na bélle époque de Paris, ao mesmo tempo oferecendo sátira política e poesia em suas obras. Um dos personagens mais importantes para a história também é uma enorme referência a Tintin, embora não contarei quem é para não estragar a surpresa.

 

 

Mas, mais do que um excelente thriller e mais do que uma carta de amor a artistas e autores da Europa, Grandville é uma fábula moderna sobre como o governo pode nos manipular facilmente se dermos ouvidos a tudo o que falam e como o nacionalismo e o patriotismo pode ter efeitos críticos na sociedade. O ataque da Torre De Robida foi recém o começo de uma grande trama de sexo, drogas e corrupção que prevalece em todo o livro. Se você quer ler uma história de suspense fantástica e interessante, vá ler Grandville. O livro não foi lançado no Brasil em edição física e nem possui tradução para PT-BR, embora ele e suas duas continuações (Grandville Mon Amour e Grandville Bete Noir) estejam disponíveis na loja Kindle do Brasil. Ter de fazer um curso de inglês para ler uma história tão incrível como Grandville é um sacrifício que vale a pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário